terça-feira, 17 de março de 2015

A Moça do Bar


Lá estava eu no bar novamente, bebendo sozinho pela terceira vez aquela semana. Havia aquela garota, olhar felino, longos cabelos castanhos e encaracolados. A vi dançar e rir com os amigos nas últimas duas noites, hoje ela estava ali, cabisbaixa, sentada no balcão com um copo de Whisky. Eu bebia chopp. Como as coisas mudam, não é? Enquanto eu refletia sobre isso, olhando o meu copo percebi que ela já não estava mais lá. Eu poderia ter puxado conversa, estava se tornando corriqueiro perder sem ao menos tentar.



Segundos depois lá estava ela, sentada ao meu lado e pedindo o mesmo que eu. Levou o copo à boca e por fim disse que eu tinha bom gosto para bebidas, andou me observando e gostava do meu estilo. Eu disse que algumas vezes, sentamos esperando com o copo na mão que aconteça algo que nos tire da velha rotina, mas que não nos mobilizamos para fazer acontecer. Ela sorriu, era este o ponto. Ela disse que estava cansada de sair com as mesmas pessoas, fazer as mesmas coisas, rir das mesmas piadas e fingir estar feliz.
Quando esvaziamos os copos ela pediu uma garrafa de vinho barato e me perguntou se eu havia algo melhor para fazer, respondi que não e ela me convidou para caminhar um pouco. Aceitei. Caía uma garoa fina, daquelas que se acumulam em gotículas nas roupas e nos cabelos. Caminhamos algum tempo, bebendo e rindo como duas crianças, ela saltava pela calçada pisando apenas nos azulejos de uma determinada cor, como fazíamos quando criança.

Depois sentamos no chão, exaustos, então percebemos que a garrafa estava vazia. A este ponto, a garoa havia se transformado em chuva, ela disse que seu apartamento ficava há uma quadra dali, então nos dirigimos para lá. Não era muito grande, mas havia uma grande estante de livros, parei para olhar enquanto ela ia buscar uma toalha. eram muitos livros, novos, pareciam intocados, virgens. Ela me entregou a toalha e perguntou: Gosta de livros? Não esperou resposta, me levou pela mão para a cozinha. O que eu não daria por uma boa xícara de café? Ao invés disso ela me fez uma caneca de chocolate quente.
Nunca entendi por que as pessoas gostam de mostrar suas casas, cômodo por cômodo, detalhando de por que assim, por que assado. Ela era uma dessas pessoas. Acabamos sentados em sua cama. Ela deitou e apoiou sua cabeça sobre a minha perna, assim ficamos algum tempo em silêncio. Depois do que me pareceu uma eternidade, ela disse que estava no bar esperando alguém que não apareceu. Eu detesto este tipo de coisa, quer fazer um inimigo, deixe-me esperando. Eu estava no bar tentando esquecer algumas coisas, dizia para ela até perceber que ela havia adormecido. Coloquei sua cabeça sobre os travesseiros, desliguei as luzes, fechei a porta e fui embora pensando que nem ao menos sei como ela se chama...

2 comentários:

  1. Ai, Henrique... essa história tem continuação? Parece um romance tão bonito nascendo aí...
    Eu acho que já fui essa garota.

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  2. Bah, estou trabalhando nela neste momento. Acho todos passamos por algo assim alguma vez, não concorda?

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